segunda-feira, 21 de março de 2011

Sexualidade, Maternidade e Psicanálise





Existem mulheres que não desejam ter filhos?

    O desejo de ter filhos é latente nas mulheres, pois seria a compensação por não ser detentora do falo, segundo Freud o objeto de desejo das mulheres não seriam os parceiros e sim os filhos, pois a busca é de uma completude. Concordo com Freud, se percebe isso claramente em observações, mas também não poderia ser diferente, porque o amor por um filho é incondicional.
    Ainda assim acredito que existam mulheres que não desejam ter filhos, mas estas devem estar direcionando sua busca pela completude em outras questões, e para não abrir mão do que é importante para elas optam por não ter filhos.
   Essa decisão por não ter filhos é cada vez mais predominante nos dias atuais, pois as mulheres se focam tanto quanto os homens na questão profissional, também pode haver outras questões que vão da particularidade da mulher. Mas a questão profissional em si, tem tido uma significância muito grande, talvez a mulher atual busque sua completude no profissional, e esse poder que o reconhecimento profissional propícia pode em determinado momento ser a compensação por não ser detentora do falo. Desta forma o sucesso pode fazer com que a mulher se sinta tal qual um homem, não num desejo consciente de ser homem, mas com um desejo inconsciente da busca pela completude, do falo e do poder que é próprio dele.
   O complexo de Édipo vivenciado pela menina é diferente do menino, a menina muda o foco do seu objeto de amor, que primeiramente é a mãe e vem substituí-lo pelo pai, o amor pelo pai faz com que ela desenvolva o ódio pela mãe e deseje ter um filho com o pai. Na fase fálica meninos e meninas são dotados de falo, o que acontece no caso da menina é uma percepção das diferenças existentes entre homens e mulheres, nesse contexto a menina terá que assumir sua sexualidade, tornar-se uma menina e deixar de ser fálica, essa aceitação da feminilidade seria uma escolha que lhe desviaria da masculinidade ou da inibição sexual.
    A superação do complexo de Édipo seria importantíssima para que houvesse o desenvolvimento sexual normal, o que muitas vezes não ocorre por este processo não se dar por completo surgindo assim diversas neuroses, estas subjetivas a cada caso específico.
   O processo de desejo neurótico pode se encontrar nessa necessidade de ter filhos, ou nessa obsessão pelo profissional, geralmente o desejo não se apresenta de forma direta, e embora mascarado ele possa exercer força para realização.
    O desejo é uma pulsão voltada para um objeto que trará satisfação ao sujeito desejante, podendo tratar-se de uma vontade reprimida. Como falamos do complexo de Édipo feminino, pode restar deste, desejos recalcados a nível inconsciente. Uma forma de ter consciência de desejos ocultos é através dos sonhos, nos sonhos o inconsciente se manifesta, comunicando-se com o consciente e desta forma nos revelando fatos que não admitimos.
     As crianças conhecem a repressão sexual desde muito cedo, e esta repressão as acompanha ao longo da vida, a sociedade recrimina de forma severa atitudes que não se adéquam a um padrão, talvez por isso o superego puna tanto as pessoas a cerca de tais desejos desta forma levando-os a nível inconsciente. Nesse contexto podem surgir sintomas neuróticos a cerca da falha do mecanismo de censura, a respeito da teoria da sexualidade Freud fala sobre sinais desta neurose no inicio da vida extra-uterina o que constitui a libido.
    O desejo de ter um filho, ou o desejo pelo profissional seria uma fantasia de se resgatar a completude perdida com a castração.
    Segundo Freud a mulher dita normal, seria aquela que escolheu como objeto de amor o pai e, portanto não amaria a mãe, sendo que por intermédio de um filho poderia anular a castração. Sendo assim os amores posteriores ao amor vivenciado a cerca do pai como objeto de desejo, seria apenas uma repetição, sendo a continuação da busca pelo falo de forma simbólica a busca por um filho.
    A mulher atual, cada vez mais deixa de lado à feminilidade que lhe fazia parecer uma mulher sensível e angelical, ela deixou o posto de mulher passiva, e a busca é por uma igualdade, acredito que nessa busca há fatores conscientes, mas também existe algo inconsciente. O tempo para essas mulheres é cada vez menor, pois o mercado de trabalho ainda é um tanto quanto machista, por isso elas abdicam de outros desejos, por exemplo, o desejo de ter filhos, como já disse antes acredito que existam mulheres que não desejam ter filhos, mas em alguns casos o desejo existe, e não é admitido e isso causa grande sofrimento. Muitas mulheres decidem por cuidar do profissional a fim de conquistar uma estabilidade financeira e aí sim terem seus filhos, mas o fator idade pode vir a influenciar, e essa preocupação com a idade pode desenvolver o medo de não realizar-se em sua feminilidade e desta forma não alcançar uma real completude. 
    Dentre todo esse simbolismo, observamos o poder das pulsões que guiam os desejos ao encontro do objeto que lhes é próprio, e percebemos também a importância da castração para o processo vivenciado no complexo de Édipo. Se a necessidade de ter filhos se trata de desejo inconsciente e talvez como coloquei no texto seja inconsciente também a busca voraz pela realização profissional, acredito que em todos nós sobram resquícios do complexo de Édipo, este que talvez nunca seja superado.

LEITE, MÁRCIO PETER DE SOUZA, Psicanálise: problemas do feminino: O homem supérfluo e o pai necessário. Forbes, J. (org.), Ed. Papirus, Campinas-SP, 1996. Disponível em: http://www.marciopeter.com.br, [Disponível em 27 Agosto 2008].
MITCHEL, J. Psicanálise da Sexualidade Feminina. Rio de Janeiro: Campus, 1988.
PEREIRA, ANA LÚCIA. MION, CÍNTIA RENATA, RAMOS, MARIA DE FÁTIMA, A Sexualidade Feminina. Disponível em: http://www.portaldomarketing.com.br/Artigos_Psicologia/Sexualidade_Feminina.htm, [Disponível em 10 Junho 2007].

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